Há um espírito regulatório na sociedade e, desde Foucault, já sabemos que o estranho – ou melhor, o incomum – é posto fora do convívio social; sendo que gradativamente, com o passar dos anos, se torna controlado/padronizado. É assim mesmo que acontece, e a desculpa mais comum para segregar é tornar o diferente algo “doentio”. Como de costume, venho defender aos divergentes; então, pegue o seu chicote e a sua roupa de látex, e venha comigo falar sobre BDSM.
Bondage, Dominação e SadoMasoquismo são práticas sexuais que envolvem inúmeras performances (de intensidades e graus variados) que, quando vistas de fora, parecem maltratar e até mesmo ferir o parceiro – e, às vezes, é isto mesmo – porém, sempre de forma consentida. O que pode conferir o status de “doentes” aos praticantes; afinal, aos olhos leigos (e bastante recatados), quem em sã consciência deixaria e pediria para ser machucado? Ah… Minha cara leitora, meu caro leitor, você nem poderia imaginar!
Se por definição de doença temos aquilo que prejudica ao bem estar emocional e fisiológico, então, nossos Senhores e Senhoras “Grey” estão mais para remédios, combativos ao mal estar, do que para agentes da doença; já que, neste universo de “quartos vermelhos”, o prazer é a primeira e última finalidade de todo o ato – que se torna, então, contraditoriamente curativo.
Envolvidos em um jogo de sedução, controle e entrega, a estética “exótica” é ardida como a pimenta; e, previsivelmente, não é preciso de muita pesquisa para imaginar que este grupo adora comidas que queimam. Por fim, que tal se permitir experimentar tais “comprimidos” de volúpia e de dor, mesmo que em doses homeopáticas? Aproveita que não são controlados pela indústria farmacêutica, e nem pelo tráfico ilegal, e… Tenha uma overdose! Para, talvez, te inspirar… Compartilho um poema, com a autorização da autora.
“Não tenho um corpo, mas muitos / Os quais, às vezes, nem se reconhecem
Um deles gosta de meninos / Grampos, mordaças e cordas
Mãos e pés amarrados, talvez? / Cabelo puxado e pescoço mordido
O gozo que, por alguns in-fin-dá-veis segundos / Me suspende [sic]
Tal e qual a epokhé husserliana, talvez? / Faz o prazer, a duros golpes, afogar a dor
Só para ela, logo em seguida, emergir – triunfante e histérica / Gargalhando entre um fôlego e outro”.
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Filósofo
Graduando de Psicologia
Escritor
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