Educar é um trabalho extremamente difícil. Em primeiro lugar, o conhecimento está sempre em desvantagem em relação à ignorância, porque a ignorância já está lá: ela é a condição “padrão” da cabeça das pessoas e vai fazer de tudo para resistir enquanto puder à entrada do conhecimento. Adquirir sabedoria dá trabalho, exige esforço de raciocínio e discernimento, enquanto a ignorância não dá trabalho nenhum. Para ser ignorante, basta não pensar, não refletir, não debater, agarrar-se às crenças nas imagens projetadas nas paredes da caverna de Platão, resistindo ferozmente a qualquer pessoa que venha dizer que elas não são reais e que existe, sim, vida inteligente do lado de fora da caverna.
Educar é, assim, convencer as pessoas que é preciso sair da caverna em busca da luz, e é sempre dificílimo convencer alguém a deixar o confortável aconchego mórbido da caverna uterina em troca do grande desconhecido que é a vida. No jogo da vida, ignorância é a posição fácil. As pessoas terão que passar por sucessivos níveis, cada qual mais complexo do que o anterior, até conseguirem adquirir a maior sabedoria de todas, que é aquela que nos foi ensinada por Sócrates, o mais sábio dos homens: “sei que nada sei”. A questão é, como…? Costumo dizer aos meus analisandos, a fumaça tóxica que hoje nos engasga está sempre vindo de alguma “fogueirinha” lá de trás que, ao seu tempo, a gente não deu conta de apagar – de traumas do passado não resolvidos, acrescidos de juros e correção monetária.
Essa é, sem dúvida alguma, uma das principais funções da análise, tornarmos mais sábios sobre nós mesmos: ajudar-nos a extinguir as fogueirinhas do passado, fontes geradoras dessas incômodas fumaças que nos impedem de respirar livremente no presente, mediante os três preceitos básicos da psicanálise, estabelecidos por Freud – recordar, repetir e elaborar. Para que o tempo opere ao nosso favor, e não contra nós, é preciso muito mais do que essa preguiçosa, passiva e cansativa atividade de deixar o tempo passar.
Como uma arqueóloga de mim mesma, é preciso que eu me debruce sobre os fragmentos do passado que o inconsciente permanentemente libera no presente. Só assim o tempo passa a ter caráter curativo, em vez de ser apenas um poderoso fator de patologização da vida psíquica – que me faz continuar a sofrer, cada vez mais sem respiração, completamente dominada pela sua fumaça altamente tóxica. Deixado a si mesmo, sem nenhuma humildade para a sabedoria, o tempo não só não cura como vai nos adoecer muito mais.
Psicanalista e Economista
Mestre em Sociologia, e em Administração de Empresas
Candidata a Prefeita de Curitiba
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