“Irmão vento, irmão sol, irmã lua, irmão lua, irmão lobo – tu és meu irmão”. Nos meus velhos tempos de candidato a seminarista, sentávamos em rodas de jovens nas dependências do Salesiano, e passávamos as tardes de sábado cantando músicas do rito católico romano. Lá pelo fim do ano, começavam as novenas natalinas e, foi aí, que ouvi pela primeira vez a palavra fraternidade. Embora não soubesse o que significava, eu – menino pio, carregando minha medalhinha de “congregado mariano” – acompanhava as campanhas de arrecadação de alimentos que a minha mãe (católica fervorosa e praticante) conduzia em nossa rua e, então, logo associei a palavra fraternidade a isto.
Não demorou a chegada do momento que eu abandonaria as reuniões dos grupos de jovens e as missas de domingo, e substituísse os cantos católicos pelos discos dos Smiths, as camisas brancas de algodão pelas camisetas dos Ramones. Adentrava em outra fraternidade e, logicamente, me tornei um crítico tão fervoroso quanto a minha mãe em sua fé: as religiões passaram a ser “o ópio do povo” e, não, eu ainda não tinha conhecimento de Guimarães Rosa.
Hoje, olhando para este passado e pensando no significado da palavra fraternidade, o conceito utópico que diz que todos os homens são iguais – “a brotherhood of man”, como cantou Lennon ou como pregou Francisco de Assis – sejamos sinceros, somos fraternos aos nossos pares e, apenas, quando convém. Basta entrar em nossas redes (ou nas “bolhas”, como os jovens chamam o Facebook) para entender: somos empáticos com as causas que nos apetecem.
Se dermos uma espiada em outras “bolhas”, pode ser até assustador; mas, mesmo com tristeza, reconheço que elas não deixam de ser, também, uma fraternidade… O que, ironicamente, me remete a um “eterno retorno” da mitologia bíblica, dos filhos de Adão e Eva: devemos reconhecer, então, qual “bolha” é a de Abel, e qual é a de Caim… Abraços Fraternos, mas só para meus brothers.
Ator
Diretor de Teatro
Dramaturgo
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